Metade dos valores serão bancados pela Fapesp e a outra metade, pela São Martinho. E a Coplana será responsável pela transferência de tecnologia para o setor sucroenergético
A parceria entre empresas privadas e universidades é fundamental para solucionar problemas no processo produtivo e incrementar a atividade. Uma das dificuldades do setor sucroenergético é controlar pragas e doenças prejudiciais ao cultivo da cultura da cana, como Bicudo-da-Cana (Sphenophorus levis), Lagarta Peluda (Hyponeuma taltula) e Síndrome do Murchamento da Cana.
Foi a busca por ferramentas inovadoras para o manejo mais sustentável da lavoura canavieira que levou o Grupo São Martinho – uma das maiores empresas do setor no Brasil, com três usinas em operação em São Paulo e uma em Goiás – a procurar a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) com demandas na área de fitossanidade de cana-de-açúcar, com destaque para problemas com insetos pragas e doenças. “Seus representantes elencaram uma série de perguntas e demandas que o grupo e o setor possuem e nós percebemos que tínhamos a competência e a expertise necessárias para responder a esses questionamentos e atender a essa demanda”, afirma Odair Aparecido Fernandes, do Departamento de Fitossanidade da Faculdade de Ciências Agronômicas e Veterinárias (FCAV), do campus de Jaboticabal da Unesp.
A partir desse interesse do Grupo São Martinho, será criado o Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar, concebido a partir da parceria da Fapesp com a empresa. A iniciativa se dá por meio de um modelo de financiamento de longo prazo que tem como finalidade promover uma forte interação entre a universidade e o setor produtivo. São, no máximo, dez anos de financiamento, com metade dos valores bancados pela Fapesp e a outra metade, pelo Grupo São Martinho. O anúncio da aprovação da proposta da Unesp foi feito pelo reitor em dezembro, na última reunião do Conselho Universitário de 2019. O termo de outorga foi assinado no final de janeiro
A missão principal do Centro, segundo a Fapesp, é “executar projetos de pesquisa complexos orientados a problemas e à busca de resultados bem definidos, que colaborem para a formação de um centro de pesquisa de classe mundial durante sua existência”.
Detentora de um know-how de três décadas de trabalho de campo aplicando o manejo integrado de pragas, que prega o respeito aos fatores ambientais envolvidos no cultivo de determinada cultura e privilegia o uso de agentes de controle biológico, a Universidade Júlio de Mesquita Filho (Campus de Jabuticabal, SP) foi a instituição escolhida para liderar o Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar.
O Centro tem como principal objetivo encontrar soluções eficazes e competitivas para o controle de pragas e doenças que prejudicam a produção de cana-de-açúcar, estratégica para a economia brasileira. O trabalho reunirá 31 pesquisadores, de nove instituições diferentes, sendo 18 deles da própria Unesp, e receberá um aporte de aproximadamente R$ 8 milhões durante os cinco primeiros anos de funcionamento, podendo ser prorrogado por igual período com novo aporte de recursos. “O foco é desenvolver pesquisas inovadoras, formar recursos humanos, desenvolver talentos e ser um centro de referência internacional”, salienta o professor Odair Aparecido Fernandes.
A proposta selecionada pela Fapesp e pelo Grupo São Martinho, que contou com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unesp (Prope) e da Agência Unesp de Inovação (Auin), envolve parcerias da FCAV com o campus de Sorocaba da Unesp, o Centro de Cana de Ribeirão Preto do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, a Esalq-USP, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a Unifran (Franca), a Uniso (Sorocaba) e a Coplana (Cooperativa Agroindustrial), localizada na cidade de Guariba, que será responsável pela transferência de tecnologia para o setor sucroenergético.
“Este projeto é muito interessante porque não temos como compromisso apenas o desenvolvimento da pesquisa e a obtenção da resposta ou do produto final. Teremos duas outras obrigações prementes: uma é a transferência de tecnologia para o setor sucroenergético. Não só a empresa será beneficiada, mas todo o setor. E a cooperativa será a responsável por transferir o know-how do que for desenvolvido. A outra obrigação é a difusão do conhecimento e, para isso, temos professoras que farão essa ponte com as escolas públicas, inicialmente de Jaboticabal e depois das demais cidades da região, à medida que formos avançando no projeto. Então teremos a transferência de tecnologia e a formação daqueles que serão usuários da tecnologia que desenvolveremos”, observa o professor Odair Aparecido Fernandes.
O plano do Centro de Pesquisa em Engenharia tem como pré-requisitos a existência de pesquisa internacionalmente competitiva, a previsão de meios para a transferência de tecnologia e a difusão do conhecimento. Dessa forma, estão envolvidos no projeto professores da área da educação para promover ações educativas em escolas públicas de ensino básico de Jaboticabal, parte da estratégia de disseminação do conhecimento exigida pelo edital.
O Centro de Pesquisa em Engenharia liderado pela Unesp terá também um grupo internacional de pesquisadores, com notória experiência na cultura de cana-de-açúcar e, particularmente, em fitossanidade, que será responsável pela avaliação da evolução do trabalho desenvolvido no âmbito do centro de pesquisa. Além de brasileiros, compõem o grupo cientistas da França, Dinamarca, Canadá e Estados Unidos.
A expectativa do reitor da Unesp, professor Sandro Roberto Valentini, é que a aprovação do primeiro centro de pesquisa em engenharia sob liderança da Unesp inspire outras iniciativas no mesmo sentido na Universidade. “A seleção da nossa proposta é o reconhecimento do trabalho realizado por todos os envolvidos, da qualidade e do impacto da produção científica e tecnológica da equipe e da relevância do plano de pesquisa proposto. Esperamos que a aprovação deste centro inspire outros grupos qualificados a submeterem propostas de centros desta natureza, aprofundando as relações da universidade com o setor produtivo na busca de soluções para problemas complexos”, diz Sandro Valentini
PRODUÇÃO E MEIO AMBIENTE JUNTOS
Filosofia de trabalho aplicada na Unesp há, pelo menos, três décadas, o manejo integrado de pragas vai nortear as pesquisas do Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar. O conceito deste trabalho, em linhas gerais, envolve certa tolerância com a ação de pragas, partindo da premissa de que a existência pontual delas não é algo que obrigatoriamente vá causar prejuízos econômicos à lavoura, e o desenvolvimento de agentes de controle biológico para neutralizar os efeitos nocivos desses insetos pragas a partir do momento em que eles se tornem, de fato, um problema à produção industrial.
“Nossa pesquisa, ao longo dos anos, é para determinar quanto de ataque a planta tolera, que tipo de agente de controle biológico está presente e se a quantidade (desse agente) é suficientemente grande para reduzir esse problema com as pragas. Se esse controle não ocorrer, aí orientamos uma intervenção, sempre pensando em adicionar mais agentes de controle biológico”, afirma o professor Odair Fernandes.
O Grupo São Martinho, por meio do gestor de inovação da empresa, o pesquisador Walter Maccheroni, também reforçou o caráter inovador da parceria e disse estar “muito satisfeito” com a futura colaboração da Unesp no Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar. “Nossa expectativa é grande para a criação de um novo ecossistema de inovação no país e estamos confiantes que esta interação entre indústria e universidade vai gerar bons resultados para nossa economia e sociedade”, diz Walter Maccheroni.
Fonte CanaOnline com informações da assessoria de imprensa da UNESP
http://www.canaonline.com.br/conteudo/sao-martinho-vai-financiar-centro-de-pesquisa-em-engenharia-fitossanidade-em-cana-de-acucar-que-beneficiara-todo-o-setor.html