
Estudos conduzidos por centro de pesquisa da Unesp investigam fatores que predispõem a cultura à doença e desenvolvem métodos de diagnóstico precoce
A síndrome da murcha tem se tornado uma das principais preocupações para o setor canavieiro brasileiro. Caracterizada pelo ressecamento e pela podridão dos colmos, especialmente em plantas maduras, a enfermidade tem causado prejuízos expressivos em diferentes regiões produtoras do país. Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Engenharia Fitossanidade em Cana-de-Açúcar (Cepenfito), da FCAV/Unesp Jaboticabal, têm se dedicado a compreender as causas do problema e a desenvolver estratégias que permitam o manejo mais eficaz e sustentável da cultura.
Segundo o pesquisador Laurecir Lemos Raiol Júnior, pós-doutorando do Cepenfito, a síndrome da murcha é resultado de um conjunto de fatores bióticos e abióticos, e não de um único agente causal. “Observamos que o problema surge quando a planta é submetida a condições de estresse, como altas temperaturas, déficit hídrico ou ataque de pragas. Esses fatores predispõem o desenvolvimento da podridão do colmo e a consequente perda de produtividade”, explica.
Os impactos econômicos têm sido significativos. Como a doença ocorre geralmente no final do ciclo da cultura, muitas usinas percebem diferenças entre a produtividade estimada e o volume realmente colhido. “A síndrome da murcha tem causado reduções de 40% a 60% em algumas áreas, comprometendo o planejamento de colheita e o desempenho econômico das unidades produtoras”, destaca Raiol Júnior. O pesquisador observa ainda que o problema está presente nas diferentes regiões do país, com registros nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco e até Tocantins.
As pesquisas conduzidas pelo Cepenfito têm como objetivo identificar os fatores de predisposição e os momentos críticos em que é possível intervir para reduzir perdas. O centro reúne pesquisadores de diversas instituições e áreas do conhecimento em uma abordagem multidisciplinar, que combina estudos de fitopatologia, fisiologia vegetal e sensoriamento remoto. “Nosso primeiro passo é entender o que está por trás do problema. Não existe um único agente, mas um conjunto de interações entre patógenos e ambiente. A partir dessa compreensão, conseguimos definir estratégias de prevenção mais eficazes”, explica o pesquisador.
Como ainda foi identificado um agente causal isolado, as medidas de controle atuais baseiam-se principalmente no monitoramento constante dos canaviais e na antecipação da colheita em áreas afetadas. O uso de material de propagação sadio também tem se mostrado essencial para reduzir a incidência. “Canaviais conduzidos com manejo adequado, desde a implantação até a colheita, apresentam menor ocorrência da doença. Isso reforça a importância de cuidar do canavial como um todo, e não apenas reagir aos sintomas”, destaca Raiol Júnior.
Além da caracterização da síndrome, o Cepenfito investe no desenvolvimento de ferramentas de diagnóstico precoce. A equipe testa tecnologias baseadas em sensores espectrais e infravermelho para detectar alterações fisiológicas nas plantas antes da manifestação visível da doença. “Hoje, quando o produtor identifica a murcha no campo, as perdas já estão consolidadas. Nosso objetivo é criar métodos que permitam agir antes desse estágio”, afirma o pesquisador.
Os estudos sobre a síndrome da murcha representam um esforço coletivo para compreender melhor as interações entre ambiente, manejo e sanidade da cana-de-açúcar. A expectativa dos pesquisadores é que, com o avanço das investigações e o desenvolvimento de ferramentas de diagnóstico precoce, seja possível reduzir as perdas e aprimorar o planejamento das safras. “Compreender as causas e antecipar o manejo da síndrome é fundamental para garantir maior estabilidade produtiva e sustentabilidade ao cultivo da cana no Brasil”, conclui Raiol Júnior.


