
Especialista aponta que o Sphenophorus levis tem exigido repensar o manejo e ampliar a integração entre campo e pesquisa, já que o inseto se aproveita da fragilidade das plantas em períodos de seca
O avanço do bicudo-da-cana tem imposto ao setor sucroenergético a necessidade de inovação constante e de um olhar mais integrado sobre o manejo da praga. Como destaca a engenheira agrônoma Karen Carolina Martins, Analista de Processos do grupo Pedra Agroindustrial, o controle do Sphenophorus levis vai muito além da aplicação de produtos: exige capacitação das equipes, ajustes nas práticas agrícolas e maior colaboração entre as usinas e centros de pesquisa.
As mudanças climáticas tornam o desafio ainda mais complexo, uma vez que o inseto se aproveita do estresse hídrico e da fragilidade das plantas para intensificar os ataques, comprometendo produtividade e elevando custos.
Entrevistador
Quais têm sido os principais impactos do bicudo-da-cana sob o ponto de vista produtivo e de custos para o Grupo Pedra Agroindustrial?
Karen Carolina Martins
O Sphenophorus levis tem sido uma praga que temos estudado bastante no Grupo Pedra. Entre 2020 e 2022, realizamos diversas mudanças no manejo e, do ponto de vista econômico, intensificamos as ações de controle. Aumentamos as operações e aplicações voltadas ao combate da praga e temos observado resultados positivos. Estimamos que, para cada 1% de tocos atacados, há uma perda de aproximadamente 1,5 tonelada de produtividade. Considerando o manejo adotado, conseguimos reduzir essas perdas e evitar a reforma precoce dos canaviais, o que tem se mostrado vantajoso para a empresa.
Entrevistador
Você mencionou o envolvimento de toda a equipe na atenção ao controle do Sphenophorus. Como esse trabalho tem sido conduzido?
Karen Carolina Martins
É interessante observar que, no início, poucos sabiam o que era o Sphenophorus. Nosso papel, enquanto área técnica, tem sido difundir o conhecimento sobre essa praga. Não adianta o operador realizar uma aplicação ou eliminar a soqueira sem entender o motivo da ação. Quando ele compreende o que é o inseto e como atua, o trabalho é feito com muito mais qualidade. Por isso, temos investido fortemente em treinamentos e ações de divulgação, para garantir um controle mais eficiente.
Entrevistador
Em relação ao manejo, quais adaptações foram necessárias para enfrentar o Sphenophorus?
Karen Carolina Martins
No preparo do solo, fizemos poucas mudanças, mas essa etapa é essencial, pois é quando conseguimos eliminar boa parte da população adulta da praga, durante a renovação do canavial. A principal mudança ocorreu na cana-planta. No plantio, passamos a revisar o nosso censo varietal, priorizando variedades que, embora não sejam consideradas resistentes, apresentem bom perfilhamento e brotação. Além disso, percebemos que o uso de inseticidas apenas no sulco de plantio deixava um intervalo de 15 a 16 meses sem intervenções, período em que a população da praga crescia.
Por isso, introduzimos uma aplicação intermediária, por volta dos oito meses de idade da planta, para evitar esse intervalo sem controle. Essa mudança trouxe resultados importantes. Na cana-soca, as alterações foram menores, com foco apenas na manutenção do manejo já adotado.
Entrevistador
Como você avalia o impacto das mudanças climáticas na cultura da cana e no controle do Sphenophorus?
Karen Carolina Martins
O clima tem um papel muito importante. Quando a cana está debilitada, em períodos de seca, o Sphenophorus se aproveita desse momento de fragilidade. É possível observar claramente que os sintomas do ataque são mais evidentes durante a estiagem do que na época de chuvas. As condições climáticas afetam tanto o ciclo da praga quanto a forma como a planta reage aos danos causados por ela.
Entrevistador
Como representante do setor produtivo, que faz a ligação entre a área técnica e a área de produção, o que você espera da pesquisa científica e do Cepenfito em termos de soluções para essa praga?
Karen Carolina Martins
Acredito que não vamos encontrar uma forma de eliminar completamente o Sphenophorus, mas precisamos desenvolver estratégias para conviver com ele de maneira equilibrada, incorporando inovações. Percebemos que, nos últimos anos, houve poucos avanços e estudos específicos sobre essa praga. Como costumo dizer, não podemos esperar resultados diferentes se continuarmos fazendo as mesmas coisas. É necessário pensar de forma diferente, buscar novas abordagens e inovar para controlar e conviver melhor com o Sphenophorus levis.


