
Estudos conduzidos pelo Cepenfito avaliam métodos de aplicação e estratégias de monitoramento para combater uma das principais pragas da cultura
O bicudo-da-cana (Sphenophorus levis) tem se consolidado como um dos principais desafios fitossanitários da cana-de-açúcar no Brasil. O inseto, que se abriga na base da planta, é de difícil controle e vem comprometendo a produtividade em importantes polos produtores. Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Engenharia-Fitossanidade em Cana-de-Açúcar (Cepenfito) têm se dedicado a compreender o comportamento da praga e a desenvolver alternativas mais eficazes para o seu manejo.
Segundo Rodrigo Cupertino Bernardes, pesquisador de pós-doutorado do Cepenfito, o principal desafio está em alcançar o inseto, que vive protegido no interior da touceira. “O bicudo-da-cana é um inseto de hábito críptico, ou seja, fica escondido abaixo do solo e dentro da planta. O grande obstáculo tem sido fazer com que os inseticidas, biológicos ou químicos, atinjam o alvo”, explica.
Os danos provocados pelo bicudo são significativos. Durante a fase larval, o inseto perfura a base da planta e forma galerias que comprometem o desenvolvimento dos perfilhos — novas brotações que garantem a continuidade da produção. “Temos observado que, para cada 1% de aumento no ataque, ocorre a redução de uma tonelada de cana por hectare. Em algumas regiões, as perdas podem chegar a 30% da produtividade”, relata Bernardes.
As infestações concentram-se principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e parte da Bahia, sendo a região de Piracicaba (SP) uma das mais afetadas. O Cepenfito tem conduzido experimentos de campo e de laboratório com o objetivo de identificar métodos de controle mais eficazes e de compreender com maior precisão a biologia do inseto. “Uma das nossas metas é estabelecer uma criação bem-sucedida do bicudo em laboratório, o que ainda não foi alcançado. Esse passo é fundamental para refinar as estratégias de manejo”, explica o pesquisador.
Entre os resultados obtidos, destaca-se o desenvolvimento de uma nova prática de aplicação de inseticidas acoplada ao uso da vinhaça — subproduto da produção de etanol utilizado na fertirrigação. “Nossos estudos mostraram que o corte de soqueira reduz cerca de 4% da produtividade, enquanto a aplicação com vinhaça proporciona, em média, 4% de aumento. É um ganho expressivo em grandes áreas”, afirma Bernardes. O método já vem sendo adotado por grupos do setor sucroenergético, como o Grupo São Martinho, que aboliu o corte de soqueira a partir da safra 2022/2023 após os resultados dos estudos.
O centro também avança no uso de tecnologias de monitoramento, com o emprego de drones e imagens aéreas para identificar áreas infestadas e otimizar o manejo. “Estamos trabalhando em duas frentes: o aprimoramento do conhecimento biológico do inseto e o desenvolvimento de tecnologias de precisão para o monitoramento”, detalha Bernardes. Essas iniciativas buscam tornar o controle mais eficiente e menos dependente de intervenções químicas.
Para os produtores, o pesquisador reforça a importância do monitoramento contínuo e da prevenção. Ele recomenda que pequenos produtores, que não dispõem de vinhaça, priorizem as aplicações de inseticidas em períodos mais úmidos do ano — entre novembro e dezembro —, quando a umidade do solo favorece a penetração dos produtos. “O monitoramento é fundamental para evitar altas infestações e garantir que o controle seja mais eficiente e sustentável”, conclui.


