
Estudo conduzido na Unesp Jaboticabal busca alternativa para reduzir impactos da praga que afeta a pecuária e está associada à produção de cana-de-açúcar
O Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar (Cepenfito) avança em uma linha de pesquisa inovadora voltada ao controle biológico da mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans), praga que tem causado preocupação crescente em regiões canavieiras do oeste paulista. O grupo identificou uma espécie de ácaro edáfico com potencial para controlar ovos e larvas do inseto, abrindo caminho para uma alternativa mais sustentável.
De acordo com o pesquisador João Rafael Silva Soares, o trabalho surgiu da necessidade de oferecer soluções que reduzam o impacto da praga tanto sobre o setor sucroenergético quanto sobre a pecuária, especialmente em áreas de integração entre as duas atividades. “Os resultados preliminares em laboratório têm se mostrado promissores. O próximo passo é validar essa eficiência em condições de campo”, explica.
A mosca-dos-estábulos não ataca diretamente a cana-de-açúcar, mas se multiplica em resíduos orgânicos decorrentes da cultura, como vinhaça e compostos orgânicos mal manejados. Esses substratos úmidos favorecem o desenvolvimento das larvas e a rápida expansão populacional da praga, que tem ciclo de vida inferior a 25 dias e elevada capacidade reprodutiva. Quando há surtos, os prejuízos à pecuária podem atingir de 20% a 30% na produtividade, afetando tanto o ganho de peso de bovinos de corte quanto a produção de leite.
Para conter os surtos, usinas têm aprimorado o manejo da vinhaça e adotado boas práticas nos pátios de compostagem, como aeração frequente e controle de umidade. Entretanto, segundo Soares, o controle químico ainda predomina, e é justamente nesse ponto que o controle biológico pode representar um avanço. “O uso de agentes naturais de regulação populacional é uma estratégia que alia eficiência e sustentabilidade. Nosso objetivo é compreender as condições ideais para que o ácaro possa atuar em larga escala, sem desequilíbrios ambientais”, destaca o pesquisador.
O Cepenfito pretende ampliar as parcerias com o setor produtivo para levar a tecnologia a campo. A etapa seguinte da pesquisa consiste em avaliar o desempenho do ácaro sob diferentes condições de solo, temperatura e umidade, buscando confirmar sua viabilidade operacional em diferentes sistemas produtivos.
O próximo desafio da pesquisa é levar o agente biológico ao campo e avaliar seu desempenho em condições reais de produção. Como a mosca-dos-estábulos ocorre em um período específico do ano — geralmente no início das chuvas —, os experimentos exigem planejamento rigoroso e execução dentro de uma janela curta de tempo. “Essa sazonalidade impõe desafios tanto científicos quanto logísticos, mas é essencial para que possamos confirmar o potencial do ácaro como uma alternativa viável de controle”, afirma Soares.


